Sometimes is never quite enough..

[,,] A saudade ensina ao coração o que sentiu e apreendeu quando estava a amar sem vontade ou sem prestar atenção. Ensina-lhe o que na verdade meteu dentro de si e jamais compreenderá - e que um dia deixará fugir.
A saudade é o castigo das almas puras, mas distraídas. [,,]

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Carta - cap. I



[,,]Meu Amor..

Abre os teus olhos e vê esta luz de uma casa que é tua também.
Todas as minhas casas parecem existir, já, no teu universo.
O meu corpo, onde habitam os meus sentidos,
a minha alma, onde guardo as emoções,
a minha casa de pedra onde durmo numa cama de coberta amarela e onde as escadas parecem ter-te lá,
aguardando por mim.

Abre os teus olhos e olha-me,
como se me visses no meio de uma multidão cheia de calor, numa mágica noite de verão.
Abre os teus olhos
e sente a areia nos pés
e o tique-taque do relógio do tempo não marcado,
não escolhido por nós.
Abre os teus olhos...
vê este carinho imenso que te tenho,
que te transforma no pássaro-dragão do meu paraíso.

Passei a vida inteira a construir castelos de papel,
alimentados pelas minhas palavras que espalhei ao vento.
E são tantas as noites guardadas na minha alma de menino, agora já menos reais mas nem por isso menos importantes, que pareço ter esquecido que as minhas noites podem ser guardadas pelo homem que sou, agora, muito mais do que pelo menino.
Guardo-te em mim como homem
e lembro-te como menino...
sem pressas,
sem vontade de te prender,
pedindo para que fiques...
Fica, por favor.
Fica, para que este castelo que constróis comigo não seja de papel.

Se as horas fossem não mensuráveis diria que o tempo contigo parece durar o que dura uma bola de sabão, cheia de cores misteriosas que nos encantam e nos mostram, mais uma vez, que tudo o que é mais simples acaba sempre por ser tão mais forte, tão mais precioso que todo o resto do mundo gigantescamente iluminado por lâmpadas que acabam por nos ofuscar a alma e os sentidos...
Meu Amor, minha amiga, minha companheira de aventuras e de palavras, minha amante de ontem e de hoje... contigo, as bolas de sabão da minha vida não têm tamanho, não têm forma.
São como um dia de verão numa praia quente onde reencontrei, em mim, a vontade de viver, há muito apagada pelas memórias más de outros tempos.
São os teus braços em volta do meu peito, protegendo-me do resto do mundo.
É o teu cheiro nos dedos das minhas mãos e a tua boca colada na minha, molhada da água que caía sem razão...
São as tuas mãos que me fizeram sentir o homem mais bonito deste mundo, que transformaram um simples toque na mais sensual “viagem” de sentidos do meu corpo...
Sim, eu sei que para ti a explicação de tudo isto reside na realidade, na vida vivida dia-a-dia, na magia própria que a sensibilidade das nossas almas atribui ao que vivemos. Perdoa e aceita, no entanto, esta minha vontade, quase mania, de ver em nós uma qualquer centelha de magia ancestral, um pouco de destino, de desígnio, de “tinha mesmo que ser”...
Sinto-me protegido ao pensar, ainda que irracionalmente, que existe Algo que toma conta de mim, de ti.. [,,]