Sometimes is never quite enough..

[,,] A saudade ensina ao coração o que sentiu e apreendeu quando estava a amar sem vontade ou sem prestar atenção. Ensina-lhe o que na verdade meteu dentro de si e jamais compreenderá - e que um dia deixará fugir.
A saudade é o castigo das almas puras, mas distraídas. [,,]

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Carta - cap. III

[,,] Olhei em frente e vi uma rua cinzenta feita de pedra. Uma cidade conhecida, mas já esquecida por há muito não ser visitada, sentida.
Vi uma mulher que conheço de há muito, que me pertence, à qual pertenço, daquela forma única de quem pertence por amor, sem obrigação, longe de prisões e de amarras.
Caminho por esta rua que me cheira ao Outono que ainda não chegou e parece-se com um quadro pintado por mim no corpo da mulher que é pássaro e também dragão. Não a chamo, porque sei que ela já me viu, sentiu.
As lágrimas caem quase sem sentido, misturadas com sorrisos de quem acabou de acordar de uma noite de amor. Como te encontrar, sem te ver, neste mundo dos sentidos perdidos, senão através de lágrimas e de sorrisos? Vem, traz-me a voz de ontem e de hoje que me faz renascer das cinzas de um outro homem que fui e não vou ser de novo...
Quem serão estas pessoas, que me olham nos olhos julgando que basta um olhar para prender a minha alma de estrela? Estou tão longe desta multidão, tão perto de um paraíso, ainda que feito de matéria indefinida. Que luz será esta que brilha em frente a mim, sem me cegar?
Que homem é este que descobriste em mim e que dança, grita, canta até ficar rouco, ri e chora em segundos e se sente a alma-velha mais nova deste mundo? Olha para mim, agora, quero que vejas o que eu já vi... vem dançar esta música comigo porque adoro sentir os teus braços, o teu ritmo, o teu olhar de cor antiga e sempre tão em paz.
Vem... porque já não me consigo ver, sem ti.[,,]