Sometimes is never quite enough..

[,,] A saudade ensina ao coração o que sentiu e apreendeu quando estava a amar sem vontade ou sem prestar atenção. Ensina-lhe o que na verdade meteu dentro de si e jamais compreenderá - e que um dia deixará fugir.
A saudade é o castigo das almas puras, mas distraídas. [,,]

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Carta - cap. IV



[,,]Sentei-me num cafezinho escondido e escrevi-te, num guardanapo fino e sujo de café, que estas folhas vermelhas que já vês, são pedaços da minha saudade que é como o mar, que vai e vem, tocando a areia de uma praia agora deserta, deixando espuma numa rocha feita de emoção mas parecendo pedra. Adoro-te. Porque sim, porque as palavras parecem, curiosamente, menores para te explicar o porquê de tanto.
Ouves os meus pés descalços que sobem e descem, sem parar, as escadas deste paraíso? Escadas de papel, talvez, que não cedem ao peso desta minha alma tão leve... Ouves os risos tão livres, os suspiros coloridos dessa mesma alma feliz, tão feliz? Ouves na minha voz a vontade da eternidade deste misturar de emoções? Ouves,..

Quão preciosos se tornaram estes dias para mim. Ser feliz, apenas feliz, parando, por vezes, num momento qualquer que vivemos. Seguindo em frente porque estas são “coisas” que não morrem mais.
Ouvi um carro ao longe e não tive que olhar para trás. As árvores, em meu redor, são gigantescas e o cheiro é o da chuva numa manhã na floresta. É tudo tão verde,  o verde antigo de um olhar que já senti. Vês-me? Desculpa, não consigo parar e a foto já não vai sair... deixa-me correr uma e outra vez. Corre comigo, apanha-me, abraça-me e diz-me, mais uma vez e sempre, “és lindo”.. Estou feliz e o pássaro é uma mulher. E a mulher és tu.
De repente, sem perceber como, já não estou sozinho num sonho antigo. O vento, que entrava por uma janela de um carro sujo, bate-me, agora, na cara, e os meus olhos já não vêm através de um vidro mas sorriem por cima do cabelo de outro alguém. As pernas são longas e fortes, as calças coçadas e os olhos fechados são feitos de ondas. Não falamos. Sei o que ela sente. Ela sabe o que sinto.
Então, parecendo ler-me o pensamento, pára no alcatrão quente de uma estrada, ilusoriamente, sem fim. Tira uma foto ao céu e dá-me um beijo breve. Sinto-me em paz..
Acima de qualquer sonho, existe a realidade. Nunca, em todos os castelos construídos, senti que a construção era partilhada, como agora. Os momentos contigo são como as palavras de um livro que se devoram mas se querem voltar a ler mil vezes, vezes mil.

Adoro-te de amor. Porque sim![,,]