Sometimes is never quite enough..

[,,] A saudade ensina ao coração o que sentiu e apreendeu quando estava a amar sem vontade ou sem prestar atenção. Ensina-lhe o que na verdade meteu dentro de si e jamais compreenderá - e que um dia deixará fugir.
A saudade é o castigo das almas puras, mas distraídas. [,,]

terça-feira, 2 de setembro de 2014

já sabes ...



[..]Meu Amor,


O cursor já pisca vazio e certo, como um relógio, há tantas horas seguidas que já não consigo saber se isto que agora escrevo é realmente o que devo escrever.
Errado não é, não sinto que seja errado, porque contigo os errados são estranhamente certos mais tarde, segundos mais tarde, horas mais tarde, meses mais tarde, anos mais tarde.
Escrevo então, olhos postos nas nuvens que passam e os ouvidos preenchidos por ti, por sons que me lembram o bater do teu coração.
Sabes Amor, as lágrimas já caem e são azuis como o céu de Lisboa que passa rápido por entre o alcatrão e as árvores e o cimento e o rio e o verde dos teus olhos cinzentos e tu dentro de mim e eu assim, sorriso nos olhos e as luzes vistas ao contrário, a cabeça deitada no teu colo quente e o amanhã perdido por entre os meus medos e as minhas revoltas sucessivas.
São só lágrimas e eu aceito-as como lágrimas.
Falavamos em sabedoria, noutro dia, e eu estou tão farto, tanto como tu estás, de pensar mil vezes mil, vezes um, em tudo e em tudo, que neste momento acrescentei um zero e só penso mil vezes mil, vezes zero... se rebentar, rebenta assim, no meio do meu fogo e da minha côr azul, como o meu amor por ti.
Existes em mim como ar.
Não tens forma, mas és de todas as formas, não tens cheiro, mas cheiras ao passado, ao agora e ao futuro, não és fria, mas arrepias e és mais quente que o vermelho do meu sangue, não te consigo agarrar mas vives em cada poro, fio de cabelo, lágrima e sorriso. Existes simplesmente aqui. Em mim.
És mil vezes mil, vezes mil pensamentos sem nada mais do que um amor insistente, persistente, emotivo, único.
Já sabes, Amor, que o amor nunca foi o problema.
E é Amor, porque só assim me consigo olhar em cada manhã no espelho transparente da minha alma... inocente e azul, como uma criança.
E é Amor, porque acordo vestido por este amor e sinto-o em cada pedaço de mim e só assim o sorriso, a paciência, a entrega e a ausência de culpa se tornam verdades reais, porque não sei ser nada para além disto que hoje sou.

E é amor.
Sabes, desde sempre sabes, que existem pequenas coisas insignificantes dentro de mim que despertam pequenos momentos perfeitos que eu às vezes não sei se vivi ou não... como os dias de sol no Alentejo e o vento quente que me inebria e me torna ausente, os raios de sol numa casa amarela e de madeira preenchida por sons suaves do mar e das conchas penduradas no teto, como a areia quente e seca que escorre por entre os meus dedos para dentro de uma caixa esquecida e aberta e depois fechada e depois aberta e depois desfeita por entre a inevitável realidade de que nunca serias fisicamente minha... às vezes, percebo, que não são coisas que despertam coisas, mas és tu que despertas coisas em mim.

Agora, Amor, que sabes que é Amor, relaxa, sente a minha paz, tenho tanto mais para te dizer.
Somos espelhos. Tu e eu. Espelhos das nossas certezas e das nossas ideias e das nossas palavras e das nossas inseguranças e dos nossos medos. Dou por mim, numa espiral de fumo, para cima e para baixo, com lágrimas, sem lágrimas, com risos, sem risos, branco e preto e azul e vermelho e branco de novo, como a luz do nosso mundo. Sempre que sobes, eu desço, sempre que ris, eu choro, sempre que duvidas, eu sei, sempre que sabes, eu fujo.
Somos um castelo, já sem paredes, já sem escadas, já sem nada... um castelo enorme e vasto como a nossa alma comum.
Temos uma alma comum. Quando te sinto dentro de mim, sinto-me comum, contigo. E é esta Alma comum a ti e a mim que me faz saber o que às vezes não me consegues dizer.
Percebo o teu medo de nós.
Percebo que não me queiras iludir, desiludir, convencer, amar, desesperar... percebo que comigo não há redes elásticas por baixo, não há anéis em dedos, para sempre, nem outras pessoas como nós ali à espreita, só à espreita para o caso de...
Tu és minha e eu sou teu.
E é amor.
Alcançada a conclusão, só posso dizer-te que esperar ou não esperar por ti, ligar o teu número ou não ligar, escrever-te ou não te escrever, ler-te ou não te ler, planear mais uma viagem ou optar por não o fazer, estares dentro de mim ou não estares, seres ou não seres a tal, não depende do amor que sinto, nem do amor que sentes.
Depende de pedaços de mundos de outras pessoas, depende de alturas certas e de outras menos certas, depende de coincidências e de espirais intermináveis de fumo que sobem e descem a uma velocidade tal que já não consigo mais controlar isto que sou e que sinto.
E o meu silêncio é, ainda agora, uma luta contra o amor que existe em mim.
Sei que sou importante.
Percebo que nunca me quiseste magoar. Mas... magoaste.
Não, não foi por não teres vindo.

Foi pelo depois.
E quer eu tenha razão, ou não, a certeza de saber dentro de mim que não iniciaste a viagem, sequer, e a forma fria como me protegeste, fez-me perceber que não podes arriscar perder-me, porque... eu sou teu. 
E tu minha.

O amanhã não pertence a ninguém, meu Amor.

Deixa-o vir, ele vai valer a pena, ele vai acontecer, porque é AMOR. [..]