Sometimes is never quite enough..

[,,] A saudade ensina ao coração o que sentiu e apreendeu quando estava a amar sem vontade ou sem prestar atenção. Ensina-lhe o que na verdade meteu dentro de si e jamais compreenderá - e que um dia deixará fugir.
A saudade é o castigo das almas puras, mas distraídas. [,,]

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A noite Passada



[,,] A noite passada
A noite passada não adormeci
Respirei fundo mil vezes mil outras mil vezes
Perdi a conta das tantas vezes que virei o rosto na almofada
Eu que nunca durmo sobre ela...curioso

A janela semiaberta
O vento entrava furiosamente no quarto
Trazia o sal do mar
A lembrança do amor que seca os lábios
Que arrepia o corpo

Procurei acender a luz
Quis pegar num livro para ler
Quis acender a televisão para iniciar mais um zapping sem sentido
Quis pensar em tudo menos no que me tirava o sono
Não consegui

Fechei novamente os olhos
Comecei a escrever
O tecto, o quadro
O giz, uma estrela cadente que agarrei num sonho
As letras eram grandes, luminosas
Como o tamanho do silencio que me percorre esta noite
As palavras intensas e roucas
Sem pontuação
Abri os olhos e tentei ler
Interpretar a escrita
O sentimento.
Estavam escritos os cinco sentidos mais um
Quantas imagens conseguimos salvar no cartão da nossa memória?
Quantos sons tem um momento de amor?
Quantos são os cheiros que combinados nos trazem apaixonados ao longo de uma vida inteira?
Quantos sabores tem uma caminhada a dois numa praia?
Quantas são as curvas do corpo que temos de percorrer para nos entregarmos?
Quantos de nós já encontrámos a inteligência emocional na palavra amor?

Somos perfeitos e ignorantes?
Procuramos a perfeição imperfeita?
Mas perdemos tanto de tudo.
No entanto, são estes pequenos nadas de tudo que nos fazem viver
Que nos fazem seguir...
E a noite passada segui...
Levantei-me e dirigi-me até à praia
A noite estava cerrada
A lua espreitava de quando em quando iluminando o caminho
Caminhei descalço sobre a areia
Deitei-me 
A areia fina mas fria nas mãos
Fechei-as e senti-te na memória das mãos
Abri os braços e fiquei a olhar o astro
Perante tal imensidão de espaço
Invadiu-me a sensação de pequenez
O corpo
Vencido
Embalou ao som do mar...
Sempre o mar.
Onde as estrelas ainda nos chamam a atenção no astro
Onde não sou mortal
Sou vida
Sou infinito
E convencemo-nos de que é possível voar
Porque a vida não pára e,
Os sonhos renovam-se a cada vaga
A cada som
Os olhos ficaram brilhantes
Lágrimas escorreram pelo meu rosto
Sem saber ao certo quando acabam
Lágrimas de saudade do teu beijo
Caminharam até ao mar
E quando se misturaram com o sal
Ouvi o mar sussurrar que era o Castigo da Ausência [,,]